Império Galáctico

Um Rapaz no Congresso

Publicado Por

BORGES CARREIRA

Idioma

Português

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A vida começara no planeta Terra havia milhões de anos. Tinham-se sucedido quatro civilizações humanas, separadas por idades do gelo. À medida que se desenvolvia uma civilização, verificava-se uma fatalidade genética. Os mais fortes dominavam os mais fracos, o saber concentrava-se numa minoria e acabava por se formar um império global no planeta, em que o fosso entre os ricos que sabiam fazer coisas ou tinham quem as fizesse para eles, e os pobres que só prestavam para servir os cafés e varrer as ruas, esse fosso tornou-se tão grande e tão intransponível que o mundo ficou inexoravelmente dividido em aristocracia e ralé, tendo a aristocracia direito de vida e morte sobre os que estavam fora dos estreitos limites da sua estreita classe.
Quando estava para começar a glaciação, os tremendamente ricos refugiaram-se nas suas naves e fugiram da Terra, enquanto a restante humanidade morria de frio e de fome, ou tinha o bom-senso de se refugiar em cavernas, redescobrir como é que se fazia fogo esfregando pauzinhos, e sobreviver como pudesse, o que, diga-se desde já, não era nada fácil.

A aristocracia, que dispunha para isso dos necessários meios, embarcara em naves espaciais para planetas que tinham sido previamente vistoriados e se concluíra terem condições de vida idênticas à da Terra antes da glaciação.

Quando a idade do gelo se principiou a derreter, os sobreviventes saíram das cavernas, espalharam-se pelo mundo e voltaram a ceder à tentação de criar uma civilização, repetindo todos os erros da anterior. E, tal como nesta última, quando as coisas pioraram, a aristocracia fugiu para outras galáxias mais confortáveis, e deixou a escumalha entregue ao seu horrível destino.

Mais duas civilizações, aconteceu o que já era de esperar, e os aristocratas foram-se espalhando por essas galáxias fora. Como a peste.

Seguiu-se mais um degelo, e a Terra preparou-se para dar início à 5ª. Civilização. Naquele tempo, surgiu no Império Galáctico uma curiosidade mórbida pela gente que ficara na Terra, e que era muito atrasada e tinha hábitos cruéis, não sabia fazer megalitos e muito menos pirâmides. Nem uma simples conta de somar. Enfim, só serviam para deleite de quem tinha um prazer perverso na companhia de gente bronca e francamente atrasada. Eram parvos, mas faziam rir deuses neuróticos. Eis agora o que se passou…

Nesta altura, Marcos Urias lançou, por cima dos óculos que acabara de pôr, um olhar iracundo na direcção de Helena, tendo depois suspirado, abanado a cabeça e franzido o nariz, com ar desgostoso por tanta abjecção.

– Bom, ia o Neolítico já muito adiantado aqui na Terra, quando começaram a chegar os primeiros turistas galácticos, para se divertirem com a estupidez dos habitantes e para se refastelar na badalhoquice com raparigas hirsutas e mal-cheirosas que eram capazes de tudo quando lhes davam a provar iogurte de morango. Ensinaram-lhes algumas técnicas rudimentares (agora não estou a falar das raparigas), e exigiram que os tratassem por deuses e lhes erigissem templos. Mea culpa. Também há por aqui templos dedicados a mim próprio, mas já há muito que os deixei de visitar. Por vergonha.

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